A aplicação de fungicidas no espigamento é essencial para proteger o trigo em sua fase mais vulnerável, garantindo grãos de qualidade, sanidade das espigas e alta produtividade na colheita.
O espigamento do trigo representa um dos estágios fenológicos mais críticos no manejo fitossanitário da cultura, especialmente no controle de doenças fúngicas como a giberela e brusone.
A correta aplicação de fungicidas nesse estágio é fundamental para preservar o potencial produtivo e a qualidade do grão. O desenvolvimento e a severidade dessas doenças são amplamente influenciados pela quantidade de inóculo presente no campo e pelas condições ambientais, principalmente temperatura e umidade.
FONTE: Biotrigo Genética
A figura apresentada demonstra, com base na escala de Zadoks, as fases de desenvolvimento do trigo, desde a emergência (estágio 0) até a maturação fisiológica (estágio 11.4). Dentre essas fases, o período de espigamento e florescimento (10.1 a 10.5) é considerado o mais sensível à infecção por doenças, como a giberela e a brusone. Essas doenças têm seus desenvolvimentos favorecidos por condições climáticas de elevada umidade e temperatura moderada (entre 20 e 30?°C), geralmente coincidentes com o florescimento da cultura.
Dessa forma, a aplicação de fungicidas deve ser estrategicamente posicionada entre os estágios 10.3 e 10.5, visando proteger as espigas quando ainda não houve infecção efetiva. A escolha de fungicidas com ação sistêmica e bom desempenho, especialmente os pertencentes aos grupos triazóis e estrobilurinas, é altamente recomendada.
Aplicações muito precoces ou tardias, resultam em baixa eficiência de controle, o que compromete diretamente dois dos principais componentes de rendimento: o número de grãos por espiga e o peso de grãos.
Levando em consideração que a giberela é uma doença que ocorre durante o florescimento do trigo, o período de predisposição à infecção estende-se do início da floração (presença de anteras soltas e presas) até o grão leitoso (presença de anteras presas), identificar corretamente o estádio e considerar o clima no momento da aplicação é fundamental para aproveitar o máximo potencial do fungicida e garantir qualidade na colheita.
Principais doenças no espigamento do trigo
As doenças giberela (Fusarium graminearum) e brusone (Magnaporthe oryzae) representam ameaças graves à cultura do trigo, principalmente em regiões úmidas e com alta intensidade de cultivo.
Giberela: os principais sintomas visuais são as espiguetas isoladas ou seções da espiga com coloração branca ou rosada enquanto o restante da espiga ainda está verde. Com o decorrer do tempo, essas espiguetas doentes se expandem e ficam levemente rosadas, com grãos vazios, enrugados e com aspecto esbranquiçado e leve odor fúngico, com perdas que podem chegar a 100% em cultivares suscetíveis. A infecção costuma ser parcial na espiga, o que a diferencia de outras doenças como a brusone.
Brusone: as principais manifestações de brusone no trigo são as espigas com a parte superior seca ou queimada, enquanto a parte inferior permanece verde, com um limite bem visível entre as duas áreas. Pode ocorrer também lesão escura e seca na ráquis, muitas vezes interrompendo o enchimento de grãos acima do ponto afetado, em infecções foliares ocorrem manchas ovaladas, com centro esbranquiçado e bordas castanho-escuro. A brusone pode afetar também as folhas, colmos e nós, comprometendo a planta como um todo.
Imagem: Embrapa
Condições climáticas ideais para aplicação de fungicidas
Produtos como herbicidas e fungicidas compõe boa parte do custo de produção de uma lavoura de trigo, por este motivo, antes de realizar uma aplicação, o produtor deve estar atento a uma série de fatores para que a aplicação seja feita de forma eficiente a fim de obter os melhores resultados possíveis.
As condições climáticas na hora da aplicação como temperatura, umidade do ar, orvalho e vento são responsáveis por boa parte dos resultados.
Temperatura: a velocidade de evaporação de uma gota tende a ser duplicada com o aumento de temperatura de 10°C para 20°C e assim por diante, desse modo, para a aplicação de defensivos no trigo, não se recomenda operar em temperaturas acima de 30°C.
Umidade do ar: a baixa umidade do ar associada a alta temperatura atua também fazendo as gotas do produto evaporarem com maior facilidade, além disso a planta irá absorver menos com baixa umidade relativa. Dessa forma a umidade relativa do ar indicada para aplicações é de no mínimo 60%.
Vento: o indicado para aplicações de fungicidas em trigo é a velocidade do vento de 3 a 10 km/h, ventos abaixo de 3 km/h faz com a que as gotas, principalmente gotas finas, fiquem suspensas no ar e não atinjam o alvo, já ventos acima de 10 km/h favorecem o efeito da deriva, onde o produto é levado para longe do alvo.
Chuvas e orvalho: para que o produto seja absorvido corretamente, deve permanecer algum tempo na superfície das folhas. Diante disso, se houverem chuvas logo após a aplicação, o produto será lavado das folhas e perdido no solo. Além da interferência chuva, a presença de orvalho pode acabar diluindo o produto ou até causar o escorrimento, que terá efeito semelhante ao da chuva, prejudicando o sucesso da aplicação.
Conclusão
A aplicação de fungicidas no espigamento do trigo é uma prática essencial para proteger o potencial produtivo da lavoura, especialmente contra doenças severas como a giberela e a brusone. Para garantir a eficiência do controle, é indispensável alinhar o momento correto da aplicação com as condições climáticas favoráveis e o uso adequado da tecnologia de pulverização. Além disso, a escolha do fungicida deve considerar o modo de ação e o espectro de controle, priorizando misturas de ingredientes ativos eficazes. O manejo preventivo, aliado ao monitoramento constante da lavoura, permite maior assertividade nas decisões, contribuindo para a sanidade das espigas e para a produção de grãos com qualidade.
Texto escrito por Lucas Silva Bormann e Renan Mariotti, membros da AGR Jr. Consultoria Agronômica, Empresa Júnior do Curso de Agronomia da UFSM Campus Frederico Westphalen, sob a orientação da professora Gizelli Moiano de Paula.
Referências
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Foto capa: Embrapa