O trigo enfrenta desafios frequentes como doenças foliares e estresses abióticos, entre eles, o déficit hídrico, temperaturas extremas e a deficiência de nutrientes, que impactam negativamente seu desenvolvimento e rendimento final de grãos. A nutrição foliar estratégica é uma ferramenta que contribui significativamente para o fortalecimento do trigo durante a fase vegetativa, melhorando sua resistência a doenças e seu metabolismo sob estresse.
Micronutrientes como manganês (Mn), cobre (Cu) e zinco (Zn) desempenham um papel crucial na ativação de enzimas de defesa e nas vitaminas de compostos antioxidantes, tornando as plantas menos suscetíveis a patógenos foliares. A nutrição foliar atua como um reforço à adubação do solo, bem como a correção de carências com ações mais imediatas, disponibilizando nutrientes diretamente nas folhas, o que favorece uma assimilação mais rápida e eficaz. Essa técnica é especialmente eficaz para suprir, de forma imediata, deficiências nutricionais que não foram atendidas via solo, além de atender às exigências da planta em fases decisivas do seu desenvolvimento, como nos momentos em que precisa reforçar seus mecanismos de defesa.
O papel dos micronutrientes na defesa vegetal
Manganês (Mn) - O ativador de resistência sistêmica. O manganês fortalece a resistência do trigo ativando enzimas que produzem compostos antifúngicos (ligninas, fenólicos e flavonoides). Contribui para a redução da incidência de fungos por meio da ativação enzimática e formação de barreiras estruturais, dificultando a penetração de patógenos.[GN1] Esses mecanismos combinados tornam-se essenciais para a defesa vegetal e o manejo sustentável de doenças na cultura.
Além disso, o manganês tem um papel do fortalecimento estrutural com a síntese de lignina e compostos fenólicos. Isso cria uma barreira física eficaz contra a penetração de patógenos e reduz significativamente as perdas de água por transpiração. Além disso, o manganês participa do processo fotossintético, garantindo a produção contínua de energia mesmo em condições climáticas desfavoráveis.
Cobre (Cu) - O reforçador de parede celular. O cobre é um micronutriente essencial, que atua como componente chave de enzimas envolvidas na síntese da lignina, reforçando as paredes celulares contra patógenos. Sua deficiência compromete a lignificação, aumentando a vulnerabilidade a doenças como oídio, ferrugem da folha, septoriose e bacterioses do colmo. Como regulador metabólico, protege as membranas celulares através da estabilização lipídica e melhora a eficiência fotossintética sob estresse.
Além disso, o cobre reduz a eficiência dos ROS (espécies reativas de oxigênio), prevenindo danos oxidativos e mantendo o desempenho produtivo. Sua ação multifuncional combina reforço estrutural, proteção metabólica e controle de patógenos, resultando em plantas mais resistentes e com melhor desenvolvimento, mesmo em condições adversas.
Zinco (Zn) - O regulador antioxidante. A deficiência de zinco (Zn) compromete a defesa antioxidante ao reduzir a atividade da enzima SOD (superóxido dismutase), levando ao acúmulo de radicais O??. Esses radicais atacam os lipídios das membranas, causando peroxidação e perda da integridade celular. O Zn também é essencial para estabilizar ligações entre proteínas e grupos sulfidrila (-SH), mantendo uma estrutura de enzimas de defesa. Sem Zn suficiente, essas proteínas tornam-se instáveis, prejudicando os mecanismos de resistência. O resultado é uma planta mais vulnerável a patógenos e menos capaz de responder de forma positiva a estresses.
Estudos realizados que comprovam a importância da aplicação manganês (Mn), cobre (Cu) e zinco (Zn)
Diversos estudos científicos comprovam a importância da aplicação de micronutrientes como manganês (Mn), cobre (Cu) e zinco (Zn) nas plantas. Esses elementos são essenciais para o desenvolvimento vegetal, ocorrendo em processos fisiológicos fundamentais como a fotossíntese, a síntese de enzimas, a respiração celular e a resistência aos estresses bióticos e abióticos.
Moreira et al. (2020) demonstraram que zinco (Zn) reduz a severidade de brusone (Magnaporthe oryzae) em trigo, modulando a produção de peróxido de hidrogênio e morte celular. A eficácia variou conforme a cultivar e concentração de Zn aplicada. Cakmak (2000) destaca que o zinco (Zn) desempenha um papel crucial na proteção das células vegetais contra o estresse oxidativo por meio da ativação da enzima superóxido dismutase (SOD), que neutraliza espécies reativas de oxigênio (ROS). Durante o estágio vegetativo do trigo essa ação é vital, pois o estresse ambiental e biótico pode comprometer a integridade celular e o crescimento. O suprimento adequado de Zn, portanto, fortalece a defesa antioxidante da planta e contribui para sua saúde fisiológica.
Estudos realizados por Stepien e Wojtkowiak (2016), mostram que a aplicação foliar de cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn) na cultura do trigo durante o estágio vegetativo mostrou efeitos positivos na qualidade do grão, com impactos sobre o teor de proteína, glúten e índice de sedimentação. Esses elementos também influenciam parâmetros fisiológicos essenciais à resistência da planta a estresses ambientais, contribuindo indiretamente para sua defesa.
Segundo Broadley et al. (2012), os micronutrientes Cu, Mn e Zn são fundamentais no metabolismo vegetal. No estágio vegetativo, esses nutrientes são determinantes para a construção estrutural e funcional da planta, e sua deficiência pode comprometer não apenas o crescimento, mas também os mecanismos naturais de defesa contra patógenos.
Manejo prático e recomendações
A aplicação combinada de manganês, zinco e cobre nos estádios iniciais de perfilhamento fortalece a resistência do trigo através de múltiplos mecanismos. Formulações quelatadas (nutrientes que foram combinados com moléculas orgânicas) mostram melhor absorção, preferencialmente se aplicadas no final da manhã, quando as condições climáticas otimizam o aproveitamento. É importante destacar que o manejo com aplicação foliar de micronutrientes deve ser realizado de forma preventiva, e não como medida corretiva após ou durante situações de estresse enfrentadas pela planta.
Considerações finais
A aplicação foliar de micronutrientes atua como parte de um manejo integrado, reforçando barreiras fisiológicas e reduzindo a dependência de intervenções químicas, mas sem substituí-las. Mais do que suprir nutrientes, a nutrição foliar fortalece os mecanismos naturais de defesa da planta, reduzindo a pressão por intervenções químicas e contribuindo para sistemas de produção.
Essa abordagem integrada de manejo nutricional é uma ferramenta valiosa para sistemas de produção sustentáveis e de alto rendimento. A aplicação foliar de micronutrientes na cultura do trigo, portanto, não deve ser encarada apenas sob o aspecto nutricional, mas também como uma estratégia de proteção da planta frente a estresses e no fortalecimento de seus mecanismos de defesa contra doenças.
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Texto escrito por Omega Saul e Gabrielly dos Passos Morigi, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial - PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BROADLEY, Martin et al. Function of Nutrients: Micronutrientes. 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/B9780123849052000078?via%3Dihub. Acesso em: 05 jun. 2025.
CAKMAK, Ismail. Possible roles of zinc in protecting plantcells from damage by reactive oxygenspecies. 2000. Disponível em: https://nph.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1046/j.1469-8137.2000.00630.x. Acesso em: 05 jun. 2025.
COSTA, Magna Maria Macedo Nunes. Micronutrientes na agricultura. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2024. 44 p. eu. cor. (Documentos/Embrapa Algodão, e-ISSN 2966-0343; 297). Disponível em:https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1164119/1/MICRONUTRIENTES-AGRICULTURA.pdf. Acesso em: 5 jun. 2025
MACIEL, João Leodato Nunes et al. Nutrição saudável: a relação entre a oferta equilibrada de nutrientes minerais às plantas de trigo e a ocorrência de doenças bióticas na cultura. Revista Cultivar, v. 264, pág. 32–36, 2021. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1132492/1/Trigo-nutricao-saudavel.pdf. Acesso em: 5 jun. 2025.Moreira, C.; Camacho, M.A. & Graichen, F.A.S. (2020). Redução da severidade da brusone do trigo com aplicação foliar de sulfato de zinco. Summa Phytopathologica, 46, 3, 255-259.
STEPIEN, Arkadiusz; WOJTKOWIAK, Katarzyna. Effect of foliar application of Cu, Zn, and Mn on yield and quality indicators of winter wheat grain. 2015. Disponível em: https://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-58392016000200012. Acesso em: 05 jun. 2025.
Contribui para a redução da incidência de fungos por meio da ativação enzimática e formação de barreiras estruturais, dificultando a penetração de patógenos.
Foto: Marlon Bastiani/PDI 3tentos