Para termos um ótimo sucesso na safra, devemos entender como o porte, o hábito de crescimento e a inserção de vagens podem ser diferenciais na hora do manejo. Produtividade na soja vem do conjunto: manejo ajustado ao ambiente e genética certa para a área. Veja como integrar esses fatores no seu talhão.

Fonte: Embrapa
No primeiro trimestre de 2025 o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um crescimento 1,4% em relação à mesma época do ano de 2024. E o grande destaque responsável por esse crescimento é a agricultura, a qual, segundo dados da Agência Gov, registrou um aumento de 12,2%, impulsionado por uma safra recorde de soja. Isso reforça a importância da oleaginosa como um pilar essencial do agronegócio brasileiro, que garante renda para o produtor e fortalece a posição brasileira como líder mundial de produção e exportação.
O desempenho da soja está ligado à genética, ao ambiente e às práticas de manejo. Características como altura de planta, número de ramos e vagens resultam da interação entre esses fatores. (Pedersen e Lauer, 2004; Liu et al., 2020). Integrar manejo, ambiente e genética é essencial para expressar todo o potencial produtivo da cultura. (Zhang et al., 2015).
Quais as consequências da escolha de um arranjo de plantas inadequado?
O arranjo de plantas, ou seja, como elas são dispostas na área, é um assunto amplamente discutido por todo o Brasil. Tendo em vista que ela pode ser um fator crucial na hora da aplicação dos agroquímicos, facilitando ou até mesmo dificultando a absorção do produto nos terços inferiores da planta, o qual vai refletir na sua produtividade posteriormente.
A arquitetura de planta e seu porte são dois fatores muito importantes e que devem ser levados em consideração para definirmos o arranjo de plantas, em razão de que irá influenciar no manejo e no ciclo da cultura.
Porte ideal
Dentre sua arquitetura, podemos citar os dois hábitos de crescimento, o determinado e indeterminado.
Plantas com o hábito determinado cessam o seu crescimento vegetativo logo após o início da floração, atingindo sua forma e seu tamanho definitivo até a maturação.
Já as de hábito indeterminado, continuam crescendo e aumentando seu porte vegetativo mesmo depois da floração, a qual conseguem se adaptar a diferentes tipos de arranjo de plantas.
O porte da planta baixo, médio ou alto é decisivo na escolha da cultivar, pois influencia o acamamento, a penetração de luz no dossel e até as perdas na colheita.
Plantas de porte mais alto, quando cultivadas em áreas de alta fertilidade, tendem ao acamamento (tombamento das plantas), o que dificulta a colheita e cria um ambiente mais favorável ao surgimento de doenças. Além disso, à medida que a cultura se desenvolve, o dossel se torna mais denso, reduzindo a penetração e a cobertura dos agroquímicos aplicados.
Já em plantas com um menor porte, a principal desvantagem é a perda de grãos na colheita. Quando o primeiro legume está muito próximo ao solo, a plataforma de colheita pode danificar o grão ou até mesmo abandonar as vagens.
Equilíbrio entre folhas e ramos
As folhas e os ramos têm papel fundamental na fotossíntese e no desenvolvimento da soja. A boa distribuição das folhas permite que a luz alcance todo o dossel, favorecendo o enchimento de vagens e o equilíbrio da planta, pois a distribuição espacial das folhas deve ser adequada para não haver competição por luz. Entretanto, o número excessivo de ramos e folhas podem gerar um sombreamento interno e na parte inferior da planta, reduzindo a eficiência fotossintética.

Fonte: Sérgio humberto Rosa (Linked in)
Quando a distribuição das folhas e ramos é equilibrada, o sombreamento interno é reduzido, permitindo melhor circulação de ar e rápida secagem das superfícies foliares após chuvas ou orvalho, influenciando no microclima da região. Esse aumento da ventilação e a menor retenção de umidade dificultam o estabelecimento e a proliferação de patógenos como ferrugem asiática (Phakopsora spp.) e oídio (Erysiphe diffusa), que necessitam de folhas úmidas por períodos prolongados para infectar a planta. Em outras palavras, um dossel mais “transparente” e arejado mantém as condições menos favoráveis ao desenvolvimento de doenças, promovendo maior sanidade da lavoura e maior eficiência fotossintética.
Qual é o espaçamento ideal entre linhas e entre plantas para diferentes cultivares de soja?
Cultivares que apresentam arquitetura mais ereta e folhas horizontais curtas permitem o uso de menores espaçamentos entre linhas, variando de 35 a 45 centímetros. Essa configuração reduz o sombreamento entre as plantas e favorece a penetração da luz no dossel. Por outro lado, cultivares com arquitetura mais aberta e com maior emissão de ramos requerem espaçamentos mais amplos, entre 45 e 60 centímetros, a fim de evitar o fechamento precoce das entrelinhas e garantir melhor penetração dos agroquímicos. Já o espaçamento entre plantas na linha geralmente varia de 6 a 7 centímetros, sendo ajustado conforme o porte e o potencial de ramificação da cultivar.
Qual tipo de hábito é mais indicado para regiões de alta fertilidade ou de estresse hídrico?
Em ambientes com alta fertilidade do solo, as cultivares de soja com hábito de crescimento determinado são as mais indicadas, pois apresentam um desenvolvimento vegetativo mais equilibrado, evitando o excesso de biomassa e garantindo uma melhor relação entre folhas, ramos e vagens reduzindo o risco de acamamento e diminui o sombreamento interno do dossel, favorecendo uma distribuição mais uniforme da luz e uma maior eficiência na utilização dos recursos do solo.
Por outro lado, em regiões sujeitas a condições de estresse hídrico, as cultivares com hábito de crescimento indeterminado, arquitetura mais aberta e maior número de ramos laterais mostram-se mais adaptadas. Essas plantas continuam seu crescimento vegetativo mesmo após o início da floração, o que permite um melhor aproveitamento da luz e uma distribuição mais constante da fotossíntese ao longo do ciclo. Dessa forma, conseguem manter a produção de energia mesmo em períodos de déficit hídrico, compensando parte das perdas provocadas pelo estresse e garantindo maior estabilidade produtiva em ambientes de menor disponibilidade de água.
Plantas de porte alto são sempre mais produtivas?
Não. A produtividade da soja está relacionada principalmente à eficiência da arquitetura da planta, e não à sua altura. Plantas excessivamente altas, com dossel muito fechado, tendem a limitar a penetração da luz nas folhas inferiores, o que reduz a taxa fotossintética e compromete o desenvolvimento das vagens nessas regiões. Além disso, essa característica dificulta a circulação de ar entre as plantas, aumentando a umidade interna e, consequentemente, o risco de doenças, além de prejudicar a eficiência na aplicação de fungicidas e outros agroquímicos.
Como posso equilibrar o número de ramos e folhas sem comprometer a produtividade?
A definição da população adequada de plantas é essencial para o bom desempenho da cultura da soja, pois densidades mais baixas favorecem o crescimento de ramos laterais, enquanto densidades muito elevadas reduzem a ramificação, aumentam o alongamento dos caules e intensificam a competição por luz, água e nutrientes. A escolha da cultivar também influencia diretamente nesse equilíbrio, sendo recomendados materiais com ramificação moderada e folhas dispostas em ângulos abertos, o que melhora a interceptação da luz e a aeração do dossel, resultando em maior eficiência fotossintética e menor incidência de doenças.
O aumento da densidade sempre compensa em termos econômicos?
Nem sempre densidades mais elevadas resultam em maior produtividade da soja. Cultivares com arquitetura compacta e hábito de crescimento determinado costumam responder positivamente a populações mais altas, pois apresentam menor emissão de ramos e aproveitam melhor o espaço vertical, permitindo maior número de plantas por área sem comprometer a interceptação de luz.
Por outro lado, cultivares de arquitetura mais aberta e hábito indeterminado tendem a perder eficiência em altas densidades, uma vez que o sombreamento interno e a competição por luz reduzem a formação de vagens, especialmente nas partes inferiores da planta.
O ponto ótimo de população é aquele que possibilita o fechamento rápido das entrelinhas, sem provocar sobreposição excessiva do dossel, garantindo elevada eficiência fotossintética e menor custo com sementes. Além disso, plantas bem distribuídas e com menor sobreposição foliar favorecem a circulação de ar, reduzem o tempo de molhamento das folhas e dificultam o desenvolvimento de fungos. O formato e a inserção das folhas também exercem papel importante: folhas mais eretas e finas acumulam menos orvalho e retêm menos gotículas de chuva, contribuindo para a sanidade do dossel.
Considerações finais
Por fim, a escolha de uma cultivar deve ir além do seu potencial de produtividade, deve-se também considerar a sua adaptabilidade ao ambiente de cultivo. O arranjo de plantas, incluindo a densidade de semeadura e o espaçamento entre linhas, deve ser ajustado para otimizar o uso de luz e nutrientes. A gestão integrada da lavoura, que alinha a genética da planta às práticas de manejo, é fundamental para alcançar o máximo potencial produtivo de forma sustentável e economicamente viável.
Texto escrito por Luani Aparecida Calegari e Marco Aurélio Fruet Borges acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros da empresa júnior AGR Jr. Consultoria Agronômica, sob acompanhamento da tutora, professora Dra. Gizelli Moiano de Paula
Referências
Embrapa Soja. (2021). Arquitetura de plantas de soja e seu impacto na produtividade. Circular Técnica nº 170. Londrina: Embrapa Soja.
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EMBRAPA SOJA. Novos sistemas de semeadura e arranjos de plantas para aumento da produtividade e sustentabilidade da cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, [2012]. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/204006/novos-sistemas-de-semeadura-e-arranjos-de-plantas-para-aumento-da-produtividade-e-sustentabilidade-da-cultura-da-soja. Acesso em: 24 set. 2025.
GARCIA, R. A.; PROCOPIO, S. de O.; BALBINOT JUNIOR, A. A. Produção de soja em diferentes arranjos espaciais de plantas no Paraná e em Mato Grosso do Sul. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2017. (Documentos, 140). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1082959/1/DOC2017140.pdf. Acesso em: 24 set. 2025.
MULLER, Mariele. Arquitetura de Plantas de Soja: Interceptação de Radiação Solar, Deposição de Produtos Fitossanitários e Produtividade. 2017. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2017. Disponível em: http://tede.upf.br/jspui/bitstream/tede/1371/2/2017MarieleMuller.pdf. Acesso em: 24 set. 2025.
Pedersen, P., Lauer, JG (2004). Resposta dos componentes da produtividade da soja ao sistema de manejo e à época de plantio. Agron. J. 96, 1372–1381. doi: 10.1051/agro:2004034
Procópio, S. O.; Balbinot Jr., A. A.; Debiasi, H. (2018). Arranjo de plantas na cultura da soja. Embrapa Soja, Documentos 388.
Zhang, H., Hao, D., Sitoe, HM, Yin, Z., Hu, Z., Zhang, G. et al. (2015). Dissecação genética da relação entre arquitetura vegetal e características dos componentes de rendimento em soja ( Glycine max ) por meio de análise de associação em múltiplos ambientes. Plant Breed. 134, 564–572. doi: 10.1038/srep21625